Apesar de nativa e do apelo afetivo, guavira está sumindo do Cerrado
Liana Feitosa
Não é por acaso que ela serviu de
inspiração à violeira Helena Meirelles ao compor Flor de Guavira. Nativa
do Cerrado, a delicada, branca e miúda flor aparece ainda na época de
estiagem, anunciando que os frutos da guavira - ou gabiroba - surgirão
em breve. Na casa da costureira Maria de Lurdes Brey, de 67 anos, todo
cuidado é dedicado ao arbusto.
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"Quando recebo visitas eu já falo:
cuidado com a guavira, não trate ela de qualquer jeito", conta.
Encantada com os frutos e admiradora das flores, dona Maria de Lurdes
conta que aprendeu a fazer mudas de guavira para dar aos amigos. "Até
fiz muda dela, com a semente. Tem que ter paciência e cuidado porque a
muda demora um pouco para ficar madura, mas fiz para um amigo que mora
no Paraná e que queria uma planta frutífera típica do Cerrado para
cultivar", explica.
São quatro ou cinco pés de gabiroba no
quintal, "tem uma porção. Tenho várias porque o fruto é muito saboroso e
gosto muito", completa Lurdes. Mas, apesar de nativa, está cada vez
mais difícil encontrar guavira por aí, nos quintais e espaços verdes da
cidade.
Passado - A aposentada Agacy dos Santos, de 60 anos, lembra com carinho do tempo em
que percorria as ruas da Capital com a mãe e as irmãs em busca das
pequenas frutas. "Isso lá pelo final da década de 50. Nós íamos na
região do Santo Amaro, perto da reserva do exército, lá existiam muitos
pés de guavira. A gente nem trazia pra casa, comíamos ali mesmo",
relata. Hoje, Agacy mesma reconhece que está difícil encontrar a planta,
"não existem mais tantas como antigamente."
Na estação em que a fruta é produzida,
geralmente novembro, indígenas a vendem no centro da cidade, em frente
ao Mercadão Municipal, por 10 reais o litro, que é quando uma lata vazia
de óleo de cozinha é preenchida com as frutinhas. A procura é muito
grande todos os dias, segundo Dionísia Elias, de 62 anos, uma das
comerciantes.
Raridade -
No entanto, de acordo com o pesquisador Edmilson Volpe, engenheiro
agrônomo do Cepaer (Centro de Capacitação e Pesquisa) da Agraer (Agência
de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural), a guavira é considerada
planta invasora em áreas de pastagem. "Ela faz parte da vegetação do
Cerrado, é nativa. Mas quando o produtor vai plantar milho, soja, enfim,
o solo é preparado e ela desaparece porque é feita uma limpeza dessas
lavouras", contextualiza.
Com a diminuição da oferta da fruta,
resultado até mesmo do crescimento das cidades da região, o especialista
acredita que a melhor maneira de conservá-la é tornar seu cultivo
viável economicamente, tanto para consumo próprio, como para
comercialização.
Melhoramento -
É por isso que a Agraer desenvolve pesquisas com a planta há cinco
anos, justamente para conciliar produção e preservação, segundo o
pesquisador. "O solo do Cerrado é, geralmente, fraco, considerado de
baixa fertilidade para outras culturas (como soja e milho). É preciso
muito investimento em melhoramento de solo para essas produções. Mas a
guavira é uma alternativa viável", pontua.
Por causa da alta aceitação e relevância
da fruta em Mato Grosso do Sul, Volpe acredita ser fundamental
encontrar formas de aprimorar seu aproveitamento e preservação.
"Cultivá-la é uma ótima forma de preservá-la", amplia.
Além disso, a gabiroba é considerada uma das 10 frutas mais viáveis do Cerrado. "Percebemos que, se é fácil de comercializar, então é fácil ganhar dinheiro com ela. Mas, para isso, ela precisa ser preservada", alerta.
Além disso, a gabiroba é considerada uma das 10 frutas mais viáveis do Cerrado. "Percebemos que, se é fácil de comercializar, então é fácil ganhar dinheiro com ela. Mas, para isso, ela precisa ser preservada", alerta.
Graças aos experimentos desenvolvidos
pela Agraer, cerca de 10 toneladas de gabiroba estão sendo produzidas
por hectare. "Isso em se tratando de experimento científico. Na prática,
o rendimento pode chegar à metade, mas do ponto de vista econômico é
viável, principalmente para o pequeno produtor", aponta.
Viabilidade -
Não é só o apreço popular pela fruta que dá viabilidade à guavira. A
versatilidade do alimento também atrai. "Ela tem outras aplicações. É
possível fazer mousse, sorvete, licor, além, é claro, do suco. A polpa
congelada pode ser vendida a aproximadamente 25 reais o litro. Ou seja,
já existe mercado para o produto", considera Volpe.
"Não só do ponto de vista econômico ela é
muito promissora, do aspecto nutritivo também. Ela tem alto teor de
vitamina C, até mais que a laranja, além de ser uma fonte de energia e
minerais", finaliza. A florada da guavira se estende até,
frequentemente, outubro para que, em novembro, inicie a produção dos
frutos, que ocorre apenas uma vez por ano.
Onde encontrar -
Para quem deseja ter exemplares da planta em casa, o viveiro Florescer
comercializa mudas. "Atualmente, não temos muitas. Devido aos cuidados
complexos que a planta exige, a reprodução não é simples. No entanto,
podemos produzir de acordo com a procura", explica uma das
proprietárias, Lucilene Bigatão.
O esposo dela, Nereu Rios, mantém o
viveiro que produz cerca de 20 mil mudas por ano. Mais informações,
sobre valores e a produção, podem ser obtidas pelo site http://www.nereurios.com.br/, onde também é disponibilizado contato com a empresa.
Pesquisador da Agraer acredita que cultivar a guavira é melhor forma de preservá-la.(Foto: Marcelo Victor)
Lu Bigatão explica que planta exige cuidados específicos para mudas serem produzidas. (Foto: Marcelo Victor)
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